Viva latinos!!!
Lançada em 2017 e acertando na fórmula (com quase nenhum erro), a série "One day at a time" é uma sitcom americana produzida pela Sony e distribuída pela Netflix, que conta a história da família Alvarez, uma família de origem cubana que vive nos EUA após Lydia (Rita Moreno) deixar Cuba por razões políticas. Ambientada em sua maior parte na casa dos Alvarez, a série conta como esteriótipos causam efeitos na vida dos "diferentes".
O preconceito é o ponto chave da série. Com episódios curtos e em cada um deles tratando de uma temática específica, “One day at a time” conseguiu cativar os espectadores pela sua simplicidade de transmitir a mensagem que quer. Em “One day at a time”, a singularidade dos episódios é explorada ao máximo e mais além disso, a singularidade dos personagens é explorada! São cinco principais, cada um deles com características que os diferenciam e os ligam ao mesmo tempo, como é o caso de Elena (Isabella Gomez) e Penelope (Justina Machado). Penelope, a mãe, é veterana de guerra, batalhadora e, de certa forma, parece aceitar a vida de enfermeira que leva. Já por outro lado, Elena, a filha mais velha de Penelope, é feminista, não consegue aceitar os problemas passados pelas minorias e mais tarde vem a se assumir homossexual. As diferenças entre as duas fazem com que o relacionamento seja aberto e o mais belo que poderia acontecer entre uma mãe e uma filha. Ponto para “One day at a time”.
Um dos personagens mais cômicos da série é um outro imigrante ilegal nos EUA, mas este canadense. Schneider (Tood Grinnel), é um imigrante branco e rico, diferente das características da maior parte da família, com exceção de Elena, que também é branca, mas o padrão “White people” não se enquadra na parte mais profunda da personalidade de Schneider. Diferente de muitos, Schineider se considera como parte da família e para ele, não existem barreiras entre ele e a família latina. Mais uma das grandes jogadas de “One day at a time” é mostrar que as diferenças étnicas são criadas pelas pessoas e não são padrões estáticos. Basta analisarmos Schneider, canadense, e os Alvarez, de origem cubana. Ponto para a série. Mas nem tudo são rosas, Schneider, algumas vezes, se torna inconveniente ao tentar se enquadrar, de modo forçado, na cultura da família cubana, como em um dos episódios em que canadense aparece com uma camisa de Che Guevara, líder cubano que os Alvarez não gostavam. Mas isso ainda é um ponto para “One day at a time”, a série mostra que até mesmo os mais desconstruídos, podem ser inconvenientes, principalmente quando a pessoa não sente na pele a dor que a outra passa, e vale lembrar que, embora ele tenha chegado aos EUA com o mesmo status de ilegal que Lydia, aos quinze anos ganhou quando chegou aos EUA, Schneider é canadense, branco e rico, jamais sofreu o que os Alvarez sofreram. Não perca as contas, pode anotar mais um ponto para “One day at a time”.
Não pense que é só isso não!!!! Mesmo sendo uma sitcom, “One day at a time” toca numa das questões mais delicadas da atualidade: a religião. A questão é tratada com um embate de Lydia e Penelope, esta não acredita plenamente no deus católico e aquela, sendo o oposto de Penelope. Ao questionar a mãe, Penelope não leva em consideração as paixões que Lydia tem pelo catolicismo, ao invés disso, a intolerância é a guia de Penelope. Mais uma vez, a série se entrelaça com a vida real. Basta analisarmos as crises humanitárias atuais e nos enxergaremos na pele de Penelope. Com o avançar do episódio, Penelope vê que não se trata de suas convicções, mas sim do que mãe escolheu acreditar. E isso é que a maioria de nós ainda não enxergou, pois estamos ocupados demais taxando todos os muçulmanos como terroristas. Ponto para “One day at a time”.
Com a avançar da primeira temporada da série, novos temas surgem e um dos mais interessantes, que não trata exatamente sobre preconceito, é a puberdade de Alex (Marcel Ruiz), filho mais novo de Penelope. No episódio em questão, Penelope decide falar sobre puberdade e sexo com o filho, após ver vídeos adultos abertos no computador do jovem. O estereótipo volta a série quando Penelope se sente incomodada em falar sobre o assunto com o filho, porque ela diz que o pai dele devia falar com ele, mas ela, divorciada, acaba sendo obrigada a falar com Alex. Nesse ponto, temos o retorno de Elena à trama principal. Depois de conversar com Alex, Penelope descobre que quem estava assistindo aos vídeos era Elena e então, sem medo, a filha mais velha de Penelope se assume homossexual. O preconceito está de volta!!! Embora tenha tido uma reação de aceitação, Penelope não havia aceitado completamente, diferente de sua mãe, extremamente religiosa, mas que aceitou do modo mais amoroso possível. Uma relação direta é feita com nossos dias atuais, a diferença é que no mundo real, a maioria dos pais trata isso como uma anormalidade e como uma coisa errada. “One day at a time” também toca nessa ferida durante a festa de quinze anos de Elena, que diz ao pai ser homossexual e este some, alegando que a jovem não era assim e que isso é errado. A série não se preocupa por inteiro em mostrar quem é certo ou errado, mas sim em mostrar que o preconceito existe e como ele se manifesta nas famílias e na sociedade. Elena representa toda a população LGBT que não é aceita por sua família, e os pais da jovem são as famílias que não aceitam. O pai dela, assumindo seu repúdio, e Penelope recebendo um certo choque, mas que após entender que a jovem não escolheu, mas sim nasceu e se identifica como homossexual, passa a aceitar e apoiar a filha, que será sempre sua amada e forte Elena.
Com um enredo leve e cômico que garante boas risadas, “One day at a time” é uma das raras sitcoms que consegue entregar uma crítica que mostra seu público como principal causador de tudo explorado pela série e, além disso é uma ótima pedida para todas as horas e com certeza é uma daquelas séries para assistir com toda a família, seja ela como for e independente do lugar de onde vem.
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